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Desejar, Falar, Trabalhar

Ana Magnólia Mendes

Faço um convite aos leitores a ‘cair na real’ nesta experiência com o real do trabalho. Aviso de antemão que neste mar a navegação não é leve e tranquila, por demasiadas vezes, se apresentarão ondas em rebordosas, especialmente quando nos confrontamos com a narrativa sobre o poder do discurso capitalista colonial e suas práticas de gestão para a “morte” do sujeito. É desses livros cuja narrativa é seca e cortante, mas que nos invoca a prosseguir na imensidão dos seus meandros. Ousaria também dizer que é uma espécie de bússola (instrumento pouco usado atualmente como elemento de localização de ‘nortes’), mas que precisa ser revisitado como tal, já que a totalidade de sua precisão geográfica é uma aposta, um risco ou um ‘quase isso’, assim como desejar. Talvez seja este instrumento que o clínico necessite ter no bolso para guiá-lo neste mar de desamparo e do vazio que é o trabalhar. É um livro que nos lança, como a um barco, em travessia e deixo ele mesmo convocar os leitores à navegação: “Não tem como saber antes de se fazer na experiência com o real, é a improvisação do trabalho, é se lançar no trabalho vivo, é buscar a nota azul, é trabalhar.” Desejo bons ventos!

Julia Mendes Pinheiro

 

Se você está buscando fórmulas prontas ou um mestre que lhe diga que caminhos percorrer, devolva este livro para a prateleira. Esta obra não lhe oferecerá dicas, listas de ‘como fazer’ e tampouco protegerá você do sentimento de desamparo e castração que a vida impõe a quem por ela se aventura. Esta narrativa é um convite a pensar sobre a voz do Outro que habita em nós. O desafio de ler, compreender e interpretar uma carta cheia de segredos. Um conteúdo incômodo que exige ser revelado. Algo que pode ser causa de tormento e sofrimento, pois impossibilita o sujeito de reconhecer a sua falta e o seu desejo. Paradoxalmente, pode ser um relato libertador e abrir uma infinidade de novos caminhos e perspectivas. Na maioria das vezes, quem procura um mestre espera receber receitas prontas, fórmulas mágicas ou conhecer um caminho seguro. Contudo, as ‘soluções de prateleira’ limitam-se a adaptar o indivíduo e definir o caminho a ser percorrido. Os conflitos permanecem latentes à espera de uma nova eclosão.  Essa atitude assume aspectos deletérios à saúde mental, pois impede o indivíduo de enfrentar o descontentamento dentro de si e criar meios de tratar suas limitações. Este livro desconstrói juízos e verdades totalizantes. Desafia códigos únicos e monolíticos. Propõe maneiras de entender as relações do sujeito com o mundo que o circunda. Pensa sobre o indivíduo dependente da natureza e da convivência social – refém das visões e interpretações próprias, dos preconceitos e olhares alheios. A autora lança a dúvida sobre o pensamento autônomo do sujeito, livre de enunciados estereotipados, como árvores que escondem no bosque a realidade do seu funcionamento e disfunções. Ousa duvidar de um discurso ilusionista com uma autoridade precária e fugaz, para apropriar-se da ética consigo.  Direciona o olhar para o vazio da existência. Acredita que isso é desistir da pseudorrealidade e tratar o real de uma forma diferente. Assim, oferece ao leitor meios para descobrir um modo autêntico de escrever a própria história, abandonando o lugar de objeto para tornar-se o sujeito de si. A ética do sujeito envolve se graduar e se diferenciar em seus diversos modos de manifestação, reconhecendo a incompletude para evitar desistir de si mesmo. Neste livro, Ana Magnólia Mendes provoca, desafia, contradiz e prepara um solo fértil para que cada leitor lance suas próprias sementes e possa tomar conta de seu singular jardim interior.

 

Luciane Kozicz Reis Araújo

ISBN: 978-85-5696-395-6

Nº de pág.: 139

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