Mulheres, literatura e audiovisual: ensaios sobre gênero, sexualidade e arte
Camille Gouveia Castelo Branco Barata
Em seu texto clássico sobre a prática do ensaio, Adorno considera que essa é uma forma de escrita cuja construção evoca a necessidade de liberdade de espírito por parte de seus autores, pontuando que “felicidade e jogo” são essenciais para o exercício ensaístico e para aqueles que nele adentram. Talvez Adorno não tivesse em mente que o ensaio seria uma modalidade de reflexão em grande medida praticada por escritores e escritoras cujo espírito foi privado da amplidão da liberdade – mulheres, pessoas racializadas, pessoas vivendo no Sul Global, membros das comunidades LGBTQIA+, para citar alguns exemplos. Os ensaios contidos neste livro possuem uma inclinação: por meio deles, investiguei, dialoguei e, muitas vezes, colidi com filmes, entrevistas, teorias, outros ensaios e ficções que têm em comum a tentativa de representar a multiplicidade caudalosa das experiências de mulheres, que não mais admitem serem encaradas como bloco universal, homogêneo e transcultural, mas demandam morada naquilo que Audre Lorde chamou de “casa da diferença”. A mulheridade perscrutada neste livro também é uma forma de falar sobre sexualidade, fazer artístico, desejo, Direito, Filosofia, perda, sofrimento, violência, desigualdade. As artistas para quem me voltei escapam ao moralismo fácil e abraçam a contradição como forma de vida e existência, por meio de expressões que este livro se propõe a analisar.