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Clarice e Kafka: uma “condição sitiada” no labirinto da modernidade

Páginas

133

ISBN 

978-65-85958-83-7

DOI 

10.22350/9786585958837

Clarice e Kafka: uma “condição sitiada” no labirinto da modernidade

Wesclei Ribeiro da Cunha

As narrativas de Franz Kafka e Clarice Lispector, ao lidarem com a condição humana, destacando do confronto entre o extraordinário e o ordinário, a existência do “homem comum”, partem da simples realidade do cotidiano. Lucrécia Neves, na medida em que São Geraldo se moderniza, assemelha-se ao modelo de “homem comum”, conforme considera Hannah Arendt acerca dos heróis kafkianos, os quais “desmascaram as estruturas ocultas da sociedade, que frustra as necessidades mais banais e destrói as mais elevadas intenções do homem” (ARENDT: 2008, p. 103). Nessa perspectiva, o “homem de boa vontade” revela as falhas de uma sociedade dividida entre ordinários e extraordinários, questão fundamental que também se apresenta na poética de Clarice Lispector, conforme destacaremos tanto na relação entre Rodrigo S.M. e Macabéa, como entre G.H. e Janair. Enquanto máscara ficcional clariceana, a trajetória de Lucrécia Neves, em sua permanente busca para ir além dos “muros imaginários” que sitiam São Geraldo, apresenta o desafio do desprendimento, por meio do qual podemos inferir a experiência enfrentada pela própria família Lispector com o intuito de fugir dos pogroms. Conforme destaca Clarice Lispector (1999, p. 165), “Minha condição é muito pequena”, logo há um descompasso paradoxal nesta “condição de manca” que nos permite questionar se seria mesmo possível alcançarmos nesta vida uma “alma já formada”, questionamento que impulsionou o início desta pesquisa. Compreendendo a tessitura poética clariceana enquanto um campo prismático, enfatizamos a natureza complexa das narrativas da escritora, com o intuito de analisar este “descompasso paradoxal” entre os âmbitos da introspecção e da exterioridade, no limiar dos quais verificaremos o caráter indissociável entre os alegóricos “muros” introspectivos das personagens, construídos por convenções sociais e morais, que sitiam a condição humana.

Clarice e Kafka: uma “condição sitiada” no labirinto da modernidade
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