A hermenêutica do mundo grego antigo: vocabulário
Dagmar Manieri
Em um dicionário ao estilo tradicional encontra-se a polissemia dos termos. Mas, geralmente, não se aprofunda nesta variedade. Convenhamos: ela implica em uma verdadeira problemática no ato de se traduzir determinado termo. É nesse sentido que a hermenêutica pode auxiliar neste trabalho cultural da tradução. Em termos filosóficos, a hermenêutica se inicia com Friedrich Nietzsche que inaugura um estilo interpretativo que rejeita o dever-ser da tradução. Não há uma “verdade” intocada esperando para ser dominada pelo conhecimento; em Nietzsche a própria interpretação é mais que conhecimento. Ela é o sintoma de uma posição de poder. Este princípio é seguido por Martin Heidegger, no sentido da quase impossibilidade de “traduzir” uma experiência autêntica. Esta complexidade explica a utilização da hermenêutica como método interpretativo; em “Parmênides”, Heidegger nos adverte da dificuldade da tradução, pois somos o produto de uma tradição – no exemplo de se interpretar os gregos antigos, a tradição romano-católica criou verdadeiros estratos que impedem um conhecer autêntico. É nesse horizonte da problemática aventada acima que propomos a diversidade interpretativa dos termos gregos antigos. Na obra não recorremos só aos helenistas, mas também a diversos pensadores contemporâneos. Isto quer dizer que alguns termos se transformam em verdadeiros conceitos como, por exemplo, politéia e mímesis. Hoje, os grandes pensadores da política e da arte recorrem a esses termos para se pensar esses respectivos campos. Por isso, ao permitir e potencializar a reflexão, politéia e mímesis se transformaram em conceitos. É com esta variedade interpretativa dos termos gregos antigos que almejamos uma real pluralidade no ato de conhecer.