“Meu povo está falando” resistência e liberdade num debate sobre apropriação cultural na literatura
Organizador
Fábio Salem Daie
Entrevistados: Bianca Santana | Cidinha da Silva | Denízia Kawany Fulkaxó | Esmeralda Ribeiro | Jeferson Tenório | Márcia Wayna Kambeba | Mário Medeiros | Olivio Jekupe | Roni Wasiry Guará
Este é um livro que deseja expandir a discussão, e não fechá-la. Nos últimos anos, a noção de “apropriação cultural” tem pautado debates no âmbito da estética, da filosofia e do direito, além de políticas públicas e privadas pelo mundo. O Canada Council for the Arts – bem como seus homólogos em províncias como Ontario e Québec – reconhece o conceito de “apropriação” para a formulação de suas políticas culturais em território canadense. Na França, a administração de Emmanuel Macron comissionou um relatório – marco na história da museologia francesa – sobre a composição do patrimônio oriundo de culturas africanas e atualmente sob responsabilidade do Estado francês. Entregue à presidência da república em 2018, tal relatório possui, entre outros objetivos, o de averiguar a possível restituição desses objetos aos países de origem. Nos Estados Unidos e na Inglaterra, veículos como The New York Times e The Guardian (para citar apenas dois importantes jornais) retomam o tema de tempos em tempos, dedicando-lhe reportagens, ensaios e artigos críticos. Grandes e pequenas instituições – museus, institutos culturais, galerias de arte, grupos de teatro, associações de escritores, universidades etc. – se debruçam sobre o conceito de “apropriação” no esforço de apreender sua complexidade e, por vezes, adotar uma posição diante dos problemas que ele propõe.
No Brasil, o assunto ganhou certa atenção há alguns anos, porém ainda parece pouco discutido e estudado. Daí uma das pretensões deste livro. Os nove escritores entrevistados abordam temas diversos, fornecendo novas perspectivas sobre questões literárias envolvendo a noção de “apropriação cultural”. É certo que essas perspectivas se vinculam às preocupações estéticas e à trajetória individual dos artistas, e como tais estão sujeitas à mudança, sobretudo quando se trata de assunto tão complexo. Em todo caso, ao insistir sobre ponto tantas vezes polêmico, este livro aspira ser, no fundo, uma contribuição ao fortalecimento da democracia.