
Habitar a paisagem: o reconhecimento da experiência estética como direito à cidade
Hulda Erna Wehmann
O que na cidade é direito do cidadão? Quais os marcos que determinam o espaço urbano democrático? Em outras palavras: o que faz de uma cidade um lugar habitável? Se é impossível habitar sem poesia, como diz Heidegger, em sua obra clássica “Habitar, construir, pensar”, pergunta-se: Como se tecem as relações entre a cidade e seu habitante? Esta indagação é tão mais importante quanto se compreende que a Cidade é resultado concreto e simbólico de uma miríade de decisões anônimas, a poiein cotidiana conforme Michel de Certeau, pelas quais os citadinos se reapropriam de espaços e constroem neles seu habitar. A inserção dessas lógicas plurais no planejamento de uma urbe é passo imperativo para evitar a transformação do urbanismo em instrumento de criação de habitat abstrato, alvo das críticas de Henri Lefebvre em “O direito à cidade”, no qual os citadinos são meros consumidores passivos do espaço.
A discussão que se pretende nessa obra é realizada a partir dos resultados de pesquisa sobre a experiência da cidade enquanto paisagem habitada. Os dados resultantes da análise permitem sugerir a necessidade do debate do direito à paisagem como elemento essencial do direito à cidade. Iniciando com uma reflexão sobre as relações entre cidade e paisagem, o livro conduz a discussão sobre o próprio conceito de paisagem, construindo, a partir dos resultados de diálogos com moradores de comunidades e favelas em Fortaleza-CE, a conceito de paisagem habitada, como experiência fundamental de ser registrada e incluída no pensar a cidade como espaço de habitação humana.
