Poeiras de vida: terceirização, subjetividade e possíveis resistências
Sergio Guimarães
Poeiras de vida trata das múltiplas possibilidades de insistir e persistir no desejo de viver. Diz de um autor que transforma, se inventa e nos faz nos conectar com a subversão. É um divisor de águas, uma aposta epistemológica para pensar saídas que permitam dar visibilidade às desmesuras do trabalho humano, estudado por uma psicologia do emprego, funcional, sem marcas históricas e culturais. Uma dessas desmesuras é a terceirização que surge como causa de prática perversa do hypercapitalismo, uma tentativa de colonização da subjetividade pelo uso de artifícios de poder que produzem a conformação e a passividade. Mas o autor insiste e aponta saídas! Nos oferece, como um feixe de luz, sua aposta na decolonização da psicologia do trabalho ao analisar as narrativas de uma época (2017-2018) propondo uma política de resistência e uma atualização paradigmática, que faz toda a diferença na luta pelo “direito à vida”, como ele diz. A obra lança luz sobre a invisibilidade das lutas, a indignação e as reivindicações. Nas narrativas é possível encontrar os furos no discurso que impõe um lugar aos terceirizados, sustentado pelas práticas assimétricas de gestão e pelo tratamento dado a estes trabalhadores como objetos a serem disponibilizados quando da necessidade de mercado ou de serviços. A obra também faz uma crítica importante à terceirização na universidade e ao descaso com os direitos dos trabalhadores. Ao longo da leitura nos é revelado de modo afirmativo os equívocos narrados no discurso, nas práticas de gestão e nos modos de construção do saber nas universidades. Saber fundado na verdade e na produção de um saber sobre o trabalho sem sujeito! Se não tem sujeito, como ter saber? A leitura me fez pensar na ética como uma das possibilidades para sustentar o desejo de teimar em viver. Desejo que faz laço social com o outro na confrontação com o Outro. Assim, aposto na teimosia do autor em persistir no seu desejo de ser um pesquisador que faz diferente e faz a diferença. Ler esse livro é para além de uma aprendizagem de conceitos, é entrar em contato com uma saída ético-política no modo de fazer ciência e de criar novos campos de saber, como diz o próprio autor “…é um jeito de dizer não ao que está posto, de resistir de alguma maneira, de inventar outros possíveis…”.
Ana Magnólia Mendes
Professora Titular do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (UnB)