O Natal no ano da peste: etnografando os tempos da COVID-19

Como seria o Natal no ano da peste? Essa não foi, a priori, a provocação emanada durante uma das aulas virtuais dos professores Dernival Venâncio Ramos Júnior e Sariza Oliveira Caetano Venâncio para os autores e as autoras dos textos que compõem o livro. Foi proposto, poucos dias antes, para que cada estudante fizesse o exercício de observar as festas familiares de 25 de dezembro de 2020. A proposta era que experimentassem, ao menos por um dia, como um etnógrafo faz seu trabalho. Assim, esse livro surge de uma necessidade de arquivar aquele momento, testemunhá-lo – sobretudo, em um contexto em que tudo era filmado. Observar, ouvir, ver e escrever o ritual natalino aparece como uma oportunidade de reflexão dos que ali ainda estão e das possiblidades de comemoração. A escrita, todos sabemos, convoca o social, só se escreve para os outros e, sobretudo nestes textos, pelos outros, para que não sejam esquecidos. Os textos deste livro contam, assim, experiências das festas possíveis em tempos do Covid-19. Relê-los lembra que continuamos lutando para sair de lá, passar o luto e, claro, sarar; só assim poderíamos narrar e dar sentido para as experiências vividas coletivamente. Mas, como toda vivência, só será possível narrar a partir do arquivado. O documento arquivado tem grande poder de evocação, pois traz o seu tempo consigo para o presente da leitura. Esses relatos, portanto, nos fornecem a possibilidade de entrarmos no tempo do arquivo, dar ordem e, sobretudo, transformar aquelas experiências em passado. Parece que demorou, mas o ano da peste começou a entrar para a História.