Problemas de hermenêutica radical
Dagmar Manieri
A dialética está intimamente relacionada a um desejo de transformação; ela foca as contradições e requer um reparo ao “erro” ou “estágio inferior”. Na cultura filosófica antiga, a contradição (antiphasis) é observada – principalmente no platonismo – com antipatia pela lógica filosófica. De certa forma a dialética é uma excelente arma, um instrumento, pode-se dizer, em mãos do filósofo. Neste estranho diálogo que se denomina de dialético, o interlocutor se converte em adversário (embora, no exemplo de Platão, seu Sócrates aparecer convidativo, até simpático). Auxiliado no princípio da não contradição, o filósofo dialético encurrala o adversário e extrai dele um estado de confusão. Mas o bom filósofo não pode ser só um bom competidor; ele necessita levantar o derrotado e fazê-lo caminhar com segurança após a derrota. Esse é o exemplo de Sócrates desenhado no Teeteto, de Platão. Nesta obra há um bom exemplo de como a dialética opera no diálogo. Teeteto é um “esplêndido jovem” de Atenas que estuda matemática com Teodoro. Sócrates se admira ante o elogio que o matemático faz da inteligência e postura nobre do jovem. Sócrates simula cordialidade para atrair o jovem Teeteto para sua armadilha. A isca é lançada e logo o jovem se sente embaraçado diante da questão: o que é o conhecimento?