No campo da pobreza: uma história dos povoadores pobres na fronteira agrária paranaense (Século XIX)
Fabio Pontarolo
Esta obra busca compreender o estabelecimento e as estratégias de resistência dos lavradores pobres migrados ou nascidos em Guarapuava, povoação localizada no Oeste da Província do Paraná, durante o século XIX. Sendo parte do território paulista até 1853, a primeira tentativa de ocupação portuguesa da região ocorreu entre 1765 e 1775, contando com a arregimentação forçada de lavradores pobres da região dos Campos Gerais do Paraná. Após o fracasso da tentativa no século XVIII, a ocupação portuguesa de Guarapuava foi retomada efetivamente em 1809, com projetos políticos e econômicos voltados para a criação de gado e a agricultura de subsistência, também envolvendo a criação de um aldeamento indígena. Além da concessão de sesmarias aos estancieiros, o governo paulista concedeu pequenas porções de terra aos lavradores pobres, seguindo as prerrogativas presentes na Carta Régia de 1º de abril de 1809. A partir da década de 1840, com a abertura do caminho de Missões, Guarapuava passou a fazer parte da rota das tropas, com campos de criação, invernagem e pouso para o gado vindo da região de Missões rumo à Sorocaba. Nesse contexto, os lavradores pobres estabelecidos na região desenvolveram estratégias de reprodução social através da produção de alimentos e da criação de animais em pequena escala, vinculadas eventual ou permanentemente com o abastecimento das tropas. Com essa peculiaridade de se tornar uma fronteira agrária, a região passou a atrair um número maior dos denominados “povoadores pobres” – lavradores migrantes atrás das terras do rocio e do Campo da pobreza em Guarapuava, passando a conviver com indígenas Kaingang, escravizados e libertos, e compondo um grupo social em luta pela sobrevivência frente aos grandes proprietários.