“Ojala no se Olvide de Otras personas bolivianas que tambien necesitan su ayuda”: as inspeções de combate ao trabalho análogo ao escravo nas oficinas de costura em São Paulo (2010-2016)
Lorena Fernanda de Oliveira Silva
A escravidão contemporânea é um fenômeno recente na História do Trabalho no Brasil. A questão passou a chamar a atenção a partir da década de 1970, no processo de ocupação da Amazônia, onde desmatamento e formas violentas de trabalho passaram a ser frequentemente denunciadas pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Várias questões globais e locais contribuíram para que essa nova forma de exploração do trabalho se tornasse um problema grave no Brasil. Globalmente, a crise econômica a partir de 1970 produziu grandes mudanças na própria maneira de operar da economia capitalista, precarizando as relações de trabalho e intensificando os processos de terceirização (HARVEY, 2014). Internamente, houve investimentos governamentais para ocupação da região Amazônica, onde muitos trabalhadores eram levados e fixados através do endividamento (FIGUEIRA, 2004). Somam-se, ainda, as políticas neoliberais adotadas no Brasil a partir dos anos 1990, que agravaram as desigualdades já existentes no país e precarizaram ainda mais as relações de trabalho tanto nos setores públicos como privados. Nesse cenário de flexibilização, o fenômeno do trabalho compulsório começou a se multiplicar. Chamado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) de “trabalho forçado”, no Brasil, essa forma de exploração foi historicamente associada à escravidão, sendo chamada de “trabalho análogo ao de escravo” ou “escravidão contemporânea”. Desde a década de 1990, a questão deixou de ser restrita ao mundo rural, e passou a ser frequentemente registrada nos centros urbanos brasileiros, principalmente envolvendo imigrantes na costura em São Paulo, trabalhando em pequenas oficinas domésticas.