Espelho do Prata: a representação do outro na guerra ilustrada da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1865-1867)
Gabriel Ignácio Garcia
A guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai (1864-1870), o maior conflito armado internacional já ocorrido na América do Sul, além de destacar-se pelos aspectos militares, econômicos e sociais, tornou-se memorável por sua cobertura visual. Pinturas, fotografias, gravuras e esculturas compuseram um vasto acervo documental que permite imaginar, problematizar e refletir as construções discursivas formadas durante os quase seis anos. Como sinalizou André Toral, a guerra alterou a dinâmica da imprensa ilustrada, gerando uma demanda por imagens. A guerra esteve na ordem do dia, ou, como afirmou Machado de Assis, “trabalhando em todas as cabeças e provocando todas as dedicações”, o que aumentava o desejo por ilustrações e informações do front. Além do engajamento das publicações já existentes, verificou-se o surgimento de impressos especializados sobre o conflito, como é o caso das fontes aqui selecionadas. Fosse através da inovadora litografia, ou com a técnica xilográfica, “as imagens, assim reproduzidas, atingiam um público que não tinha acesso a museus, ateliês ou a estúdios fotográficos e seus produtos”. As imagens multiplicaram-se, propiciando a coexistência de duas iconografias; uma de cunho oficial, patrocinada pelo poder governamental, especialmente através dos ministérios militares, e outra, independente, agradável ao gosto popular e a opinião pública. Ao se servir de imagens que contrapunham a denominada “iconografia oficial”, a sociedade da época fomentou novas representações de nação, quebrando a hegemonia que a pintura acadêmica detinha até então. Assim, o privilégio de ditar as características nacionais deixou de pertencer, única e exclusivamente, ao governo.