O terror da liberdade: Hegel e a Revolução Francesa
João Gilberto Engelmann
Esta pesquisa apresenta a interpretação hegeliana da Revolução Francesa de acordo com a Fenomenologia do Espírito e as Lições sobre a Filosofia da História Universal, ainda que não trate exaustivamente qualquer das obras. A análise hegeliana da Revolução Francesa é exposta em sintonia com o sujeito lógico-histórico de cada obra, ou seja, a consciência e os povos, respectivamente. Os conceitos de abstração e terror, que delimitam o alcance prático da Revolução Francesa, são considerados por Hegel, na Fenomenologia do Espírito, como consequências da postulação de um conceito atomista de liberdade. Enquanto a instabilidade da constituição e da república francesas ilustra a abstração (a pura negatividade), a banalidade da morte ilustra o terror. A consciência, absolutamente livre, não é capaz de produzir senão leis e atos-de-estado. Nas Lições sobre a Filosofia da História Universal a abstração, com contornos históricos mais claros, culmina na análise do liberalismo como princípio que superdimensiona os interesses particulares em detrimento do Estado. Paira sobre o fim das Lições sobre a Filosofia da História Universal o espectro do futuro incerto, das reais possibilidades que o catolicismo e o liberalismo terão de desenvolver seus princípios. A Filosofia do Direito traça, a partir dos diagnósticos oferecidos pela Fenomenologia do Espírito e pelas Lições sobre a Filosofia da História Universal, as categorias que integram o conceito de liberdade realizada, tanto no sentido da liberdade individual quanto da liberdade política. Postula, portanto, a integração ou unificação tanto do indivíduo quanto da sociedade civil-burguesa no Estado. Tal postulação implica, por um lado, a confluência, em um mesmo indivíduo, do bourgeois e do citoyen. Por outro, implica o controle dos excessos da sociedade civil-burguesa. Explicita-se, portanto, a diferença substancial entre o conceito de liberdade política da Revolução Francesa (democracia e república eletiva) e de Hegel. Por fim, o trabalho aponta possíveis problemas na interpretação hegeliana da Revolução Francesa, sobretudo no que se refere à higidez da análise hegeliana.