Rústico
Pedro Henrique Magalhães Queiroz
Sempre esperamos que um sábio diga que temos a necessidade de usufruir e de fazer usufruir das coisas boas, que precisamos amar e ser amados: até pra isso a gente precisa de alguém que dê ordens. Aí vem o Pedro: diz que o amor é até possível, que a felicidade até existe, mas que o cidadão pode querer fazer outra coisa, ou nada, escandalosamente: O cara que senta à mesa do bar e passa a tarde toda sem pedir nada. Anoitecendo pergunta quanto é a dose, não compra, se despede com meia palavra, se muito, e deixa puto o dono do estabelecimento, porque não passa meia hora e já chega notícia de que tá bebendo todas, noutro bar. O Pedro inda é pior: de tão cara de pau ele faz fiado e além disso: paga: capaz de no mesmo dia da pendura. É assim mesmo: tenha calma. A paciência do conceito existe pra quê? Tá podre? Valei-me: vai que tá. Essas coisas de Hegel, macho, se fosse fruta eu não comia não: dias depois da evacuação e o cristão não sabe se era verde ou era madura. Tem quem suspeite de nem saber que fruta era a fruta. Podiam ter dado a Eva esse benefício da dúvida, mas quem disse que dúvida não é privilégio? - Airton Uchoa Neto