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Ira e reconhecimento: um resgate da terceira parte da alma

André Gaulke

Esta obra tem como objetivo analisar o termo thymós e sua relação com a temática do reconhecimento a fim de identificar um padrão de comportamento social na contemporaneidade. A partir de A República de Platão, o thymós (irascibilidade) é apresentado como o elemento moral e político da alma humana. Sua função específica, a de lutar em favor da razão governante, é responsável pela manutenção da justiça, tanto na alma quanto no campo social. O thymós equipara-se ao soldado e é atributo essencial para o herói guerreiro, é o seu espírito que o leva a ação e o enche de coragem e de um ímpeto vital, que igualmente exerce influência fundamental na sua ética. Pelas suas características, especialmente a de produzir uma competição em favor da honra, o thymós une-se ao conceito do reconhecimento, que é explorado a partir de Hegel, na dialética do senhor e do escravo, onde a luta por reconhecimento que visa um reconhecimento mútuo da liberdade e autonomia individual é apontada como o motor da história. Não apenas isso, mas o desejo por reconhecimento é marcado como uma ação essencialmente antropogênica, como aponta Kojève, que leva o homem a buscar algo além da própria conservação da vida e o distancia da sua realidade animal. Francis Fukuyama une as definições de thymós e reconhecimento para analisar os aspectos políticos, em particular o da democracia liberal, da contemporaneidade. Na sua interpretação, estando o homem satisfeito do seu desejo de reconhecimento, algo que para ele é uma possibilidade pelo regime democrático liberal, a história teria alcançado o seu fim. No entanto, no fim da história o homem teria novamente se voltado para o desejo animal de conservação de vida, isso através de uma educação proveniente do liberalismo moderno que desespiritualizou o homem, ou seja, suprimiu nele o seu thymós, promovendo a economização da vida humana no mundo ocidental contemporâneo. Há, dessa maneira, uma inversão da estrutura anímica onde, pelo thymós reprimido, este passaria a lutar não mais em favor da razão, para que esta governe a alma, mas passaria a lutar em favor do elemento desejante da alma, que tomaria o governo de todo o ser. Tal resultado da educação liberal, em nome da satisfação completa do homem, possibilitou o surgimento de uma civilização substancialmente injusta. Assim, Peter Sloterdijk surge com uma proposta de timotização do homem contemporâneo com base no conceito de generosidade, que faria do homem alguém honrado entre os cidadãos e estimularia mais uma vez uma competição timótica que traria progresso para a humanidade e a livraria do simples e tedioso desejo de conservação da vida.

ISBN: 978-85-5696-669-8

Nº de pág.: 203

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