Merleau-Ponty e Winnicott: intersubjetividade e psicanálise infantil
Litiara Kohl Dors
A nova ontologia, ou a chamada “ontologia da carne”, formulada por Merleau-Ponty, acena, em grande medida, para o importante contributo do pensamento psicanalítico no horizonte da fenomenologia. Merleau-Ponty, desde cedo, mostrou-se um grande simpatizante das ideias de psicanalistas ortodoxos como Freud, Lacan e Melanie Klein, sobretudo porque esse movimento procurou devolver ao corpo o seu sentido mais amplo, originário, afastando-se dos ideais puramente mecanicistas vigentes na tradição filosófica e nas ciências médicas, de orientação cartesiana. Quanto a Winnicott, por sua vez, trata-se de um eminente psicanalista, que, embora tendo mantido estreitos laços com seus precursores ortodoxos, acabou por desenvolver um pensamento muito próprio, original e propositivo. Malgrado o fato de que mantiveram interlocutores em comum, não há qualquer evidência mais concreta de que Merleau-Ponty e Winnicott tenham se conhecido e menos ainda pela leitura das obras um do outro; porém, não deixa de chamar atenção a proximidade e a complementaridade entre as ideias desenvolvidas por ambos. Neste trabalho pretendemos investigar a teoria winnicottiana acerca do desenvolvimento infantil, bem como a importância da relação entre a criança e outrem (particularmente, o adulto) no tocante ao surgimento de uma consciência capaz de relacionar-se com o mundo de maneira saudável. Entendemos que esse tema, abordado pela psicanálise infantil, encontra plena ressonância no interior do debate fenomenológico acerca da intersubjetividade, tendo como referência singular a figura de Merleau-Ponty.
ISBN: 978-85-5696-663-6
Nº de pág.: 164