Fagocitar Lacan: sujeito e verdade na obra de Alain Badiou
Daniel Groisman
Alain Badiou elevou sua transferência com Lacan ao reino dos objetos eternos ou, parafraseando o título de um dos seus livros dedicado a uma geração de pensadores franceses (entre eles J.M.L.), guardou-o em seu “pequeno panteão portátil”. Em lugar de se dirigir ao consultório da rua Lille para que essa estranha forma do amor tenha lugar e logo caia como qualquer objeto submetido ao tempo, idealizou-o a ponto tal de converter Lacan em um Mestre de que podia prescindir (a estrela distante da “Ideia”), assim como se prescinde de um matemático uma vez que este deixou por meio de si uma determinada operação. Badiou escolheu a elaboração da transferência com Lacan pela via do pensamento filosófico. Se uma análise está destinada a terminar, um panteão filosófico, ou inclusive psicanalítico, está destinado a terminar com o que termina. Põe-se em jogo aqui aquilo que Lacan chamou em seu seminário sobre a ética da psicanálise de a segunda morte, a morte simbólica que chega como segunda instância da morte biológica, e que informa as posições que se adotam para ler e interpretar uma obra. A opção de levar Lacan ao panteão para lê-lo sob o viés da eternidade e a luz das estrelas é a mais freqüente. Esta opção consiste em extrair de Lacan enunciados teóricos que possam ser elevados ao estatuto de um saber transmissível e imune ao tempo. A outra opção, a distância do discurso universitário, é lê-lo sob o viés da segunda morte. Dando ao morto que lemos a possibilidade de morrer (sem o horizonte de um panteão).
ISBN: 978-85-5696-552-3
Nº de pág.: 250