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Ética e sabedoria prática: um estudo sobre a Phrónêsis a partir da Ethica Nicomachea

Lucidalva Pereira Gonçalves

A presente pesquisa investiga a função da Phrónêsis na realização do agir moral enquanto virtude intelectual vinculada a Boúleusis (deliberação) e a Proaíresis (escolha deliberada), com base na Ethica Nicomachea. No cumprimento desse objetivo, aborda primeiramente a crise do ethos grego no contexto dos sistemas éticos que antecederam Aristóteles, de modo especial, o modelo ético socrático-platônico. Posteriormente, explica em que consiste a tese aristotélica da Eudaimonía (enfatizando o seu vínculo à Teoria do Bem), e a seguir caracteriza a Phrónêsis enquanto fundamento do agir moral, com base na distinção entre as virtudes éticas e dianoéticas. Por fim, explica que a Phrónêsis, embora compreendida enquanto virtude dianoética, possui uma “dimensão estética” (de aísthesis, a sensação e percepção dos casos singulares) indispensável à realização da Eupraxia. Esta pesquisa se realiza em três capítulos: o primeiro capítulo trata de modo especial do sistema ético socrático-platônico, e aponta que Sócrates e Platão não evidenciaram como ocorreria a correspondência entre o saber ético e a prática; o segundo capítulo apresenta o modo como Aristóteles reconfigurou a Teoria do Bem, como ele fundamentou a Eudaimonía enquanto princípio da ação ética e como a Phrónêsis aparece enquanto virtude relacionada à realização da felicidade; o terceiro capítulo discute que a “dimensão estética” da Phrónêsis possibilita a relação do agente com o caso particular, com os fins da ação e com a deliberação sobre os meios adequados à realização do bem viver (eu zen). Observo que o primeiro capítulo possibilita entender que o saber prático não atinge completude quando a referência se concentra em conceitos universais, faltando indicar de que modo o saber ético atinge dimensão na práxis. O segundo capítulo nos evidencia que a Teoria aristotélica do Bem situa a Eudaimonía no âmbito do saber ético (éndoxa), que para Aristóteles se distingue do saber prático. O terceiro capítulo explica o modo como se relaciona a teleologia da ação e a práxis humana, situando a sabedoria prática em uma única virtude (intelectual), a Phrónêsis. O método utilizado neste trabalho foi o analítico-hermenêutico e o referencial teórico constituído por Aristóteles (basicamente a Ethica Nicomachea) e pela literatura especializada, em particular, as obras de Werner Jaeger, Enrico Berti, Philipp Brüllmann, Ursula Wolf e Pierre Aubenque. Argumento que a função da Phrónêsis na realização do agir ético, por se relacionar com o caso particular contido no âmbito da contingência, consiste na apreensão do télos da ação e na deliberação acerca dos meios adequados para se alcançar os fins definidos pelas virtudes morais. Indico ser a Proaíresis a causa eficiente da ação, as virtudes éticas a causa final e que a interferência dos prazeres e dores na práxis não corrompe a verdadeira teleologia do agir (causa final), somente a escolha dos meios adequados à realização dos fins (causa eficiente). Portanto, o “reto agir” (expresso pelas virtudes morais) não deixa de representar o télos verdadeiro da ação, apenas deixa de ser visado nas circunstâncias em que ocorre a predominância das afecções humanas.

ISBN: 978-85-5696-177-8

Nº de pág.: 153

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