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Martin Heidegger e Hannah Arendt no seu tempo – e no nosso

Kathrin Rosenfield; Felipe Gonçalves Silva (Orgs.)

Passou-se quase um século desde o encontro da jovem estudante Hannah Arendt com seu professor, mentor e amante Martin Heidegger. Esse lapso de tempo torna oportuno revisitar as biografias intelectuais desses dois pensadores e dos seus contemporâneos. As relações intelectuais e amorosas de M. Heidegger e H. Arendt começaram num mundo que parecia abrir-se a novos modos de pensar, viver e sentir, mas a inexperiência política dos líderes da República de Weimar e as rivalidades geopolíticas transformariam essa promessa num labirinto de contradições e conflitos: verdadeira “matéria vertente” rosiana, caos (des)humano que desembocaria na tomada de poder de Hitler. Os papeis que os antigos amantes assumiram nesse regime totalitário – Heidegger ávido por uma posição de liderança acadêmica que considerava necessária para salvar a cultura; Arendt fugindo para a França e os EUA para escapar do holocausto – criou um hiato tremendo nessa amizade intelectual que, por um milagre, não sucumbiu à tenaz recusa de Heidegger de se explicar sobre sua participação nesse regime e seu posterior distanciamento. Ambos pensadores saíram transformados do apocalipse do nazismo e da perda da grande tradição humanística alemã. O pensamento de cada qual reflete de modos muito diversos o fracasso de uma sociedade orgulhosa de seus pensadores e poetas, mas que se revelou incapaz de lidar com os desafios da modernidade. O presente volume convida para uma reflexão sobre dois estilos de pensamento:  ambos emergem dos enganos e ideais vagos de uma sociedade cuja classe média culta de intelectuais, profissionais liberais, empreendedores e industriais padeceu de uma notória inexperiência no âmbito de políticas e iniciativas sociais liberais; uma sociedade que compensou sua falta de participação ativa num sistema parlamentar (ora inexistente, ora amordaçado e controlado) com uma sobrevalorização da cultura e da arte – numa verdadeira hipertrofia de abstrações sentimentais e míticas que encontraram nas óperas de Wagner seu cenário ideal.

ISBN: 978-85-5696-644-5

Nº de pág.: 192

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