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A hipóstase Noûs em Plotino: o itinerário teórico e o debate acerca do problema da identidade do intelecto com as ideias na Enéada v.3 [49]

Robert Brenner

A questão da identidade entre Intelecto e Ideias em Plotino nasce de uma problemática epistemológica relacionada a como possuir conhecimento verdadeiro na perspectiva de uma relação cognoscitiva na qual não se tem base segura. Para garantir a empresa ontoepistemológica, Plotino recorre à união parmenídica entre ser e pensar, no âmbito da hipóstase Nous, com o intuito de afirmar a identidade e a distinção entre Intelecto e Ideias, a fim de manter a relação entre quem conhece e o que é conhecido, necessária ao processo de conhecimento. Tais conceitos são tecidos na concepção de autoconhecimento, a qual preconiza que o Intelecto tenha por atividade primária o puro pensar, cujo conteúdo é interno a ele próprio, isto é, o inteligível. As Ideias precisam estar no Intelecto, pois qualquer cognição externa é, para Plotino, relativa a meras representações e não às coisas como elas são em si mesmas. A internalidade das Ideias no Intelecto, portanto, fornece as bases para a epistemologia. Do contrário, poder-se-ia adotar a postura de suspensão do juízo, na qual a pergunta pela fonte do conhecimento se processa ad infinitum. Todavia, ao longo da pesquisa surge um problema: como conciliar a tese de que o Intelecto é idêntico aos inteligíveis e aquela de que ao mesmo tempo eles se distinguem como sujeito e objeto de conhecimento? A formulação dessa aparente contradição pode ser apreendida no contexto da crítica feita por Sexto Empírico aos dogmáticos: ele propõe a impossibilidade de haver autoconhecimento. A suposta impossibilidade de o conhecedor exercer a função daquele que conhece, e ao mesmo tempo ser aquilo que é conhecido, é basicamente a objeção de Sexto Empírico. A filosofia do Nous de Plotino, por sua vez, parece querer responder a esse impasse à luz da ampla tradição filosófica, da qual se destacam, nesse trabalho, Platão e Aristóteles, nomeadamente através do recurso aos sumos gêneros (megista gene) do Sofista e da utilização do conceito de atividade (energeia); o qual será fundamental para entender o problema e ao mesmo tempo as possíveis soluções, na medida em que ele funcionará como a hipótese interpretativa, segundo a qual será avaliada a possibilidade de conjugar essas duas teses aparentemente irreconciliáveis, através de uma distinção que se dê não no plano substancial, mas no atual, a saber: não em termos de ser, mas em termos de ato. Assim, Intelecto e Inteligíveis permaneceriam idênticos e simultaneamente distintos no tocante ao papel de quem exerce o pensamento e daquilo que é pensado. Para a consecução do objetivo de apreciar a referida problemática, bem como o de examinar a viabilidade da hipótese baseada no conceito de energeia, será feita a análise do tratado V.3 das Enéadas e de outros textos primários, dos quais se destaca o V.5.

 

ISBN: 978-65-81512-03-3

Nº de pág.: 134

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