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Fenomenologia, Linguística & Psicanálise

Renato dos Santos; Luiz Fernando Duran Iório (Orgs.)

“Na verdade, o homem não era necessário” . Com esta afirmação, Vinícius de Moraes, no poema O dia da criação, busca evidenciar a contingência que está na origem da existência do ser humano. Depois que o Senhor criou o Universo e tudo o que nele existe, no sexto dia resolveu criar o homem à sua imagem e semelhança. Com a existência do homem no planeta, chamado por ele mesmo de Terra, acontecimentos característicos de seu modo de viver, tais como a pobreza, a fome, homicídio, e todas as demais desgraças, que permeiam em todo lugar onde haja um ser humano, se fazem presente. No referido poema, Vinícius usa a expressão “porque hoje é sábado” – que remete ao dia da criação – sempre acompanhada de algum evento, como por exemplo: “Há criancinhas que não comem, há um renovar-se de esperanças, há um homem rico que se mata, há um grande espírito de porco, há a sensação angustiante” , etc., tudo isso porque “é sábado”, ou se preferir, porque o homem existe e é impossível de ele “fugir a essa dura realidade”. A tese central deste célebre poema ilustra o que buscaremos apresentar no livro que ora vem a público, ou seja, o que os 14 capítulos compartilham, como pano de fundo, é a ideia de que o sujeito é, desde sua entrada na dita cultura, precário, incompleto, um falta-a-ser, para usar um conceito lacaniano. De fato, o preço a se pagar para ser sujeito não é nada barato – paga-se com o seu ser, diria Lacan. Mas o paroradoxo que advém disso é que, se por um lado, não escolhemos ter nascido, por outro, precisamos fazer algo com isso que nos foi relegado, isso que não tem sentido – non-sense –, que se apresenta como aquilo que Albert Camus, n’O mito de sísifo, bem descreveu como sendo o absurdo.

 

ISBN: 978-65-5917-407-2

DOI: 10.22350/9786559174072

Nº de pág.: 333

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