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A sedução da leitura:

livros, leitores e história cultural (Paraná 1880-1930)

Cláudio DeNipoti

Um homem vivia, nas primeiras décadas do século XX, “em companhia de seus livros” nos arredores da cidade, em uma chácara com uma ampla biblioteca, “que [reunia] a mais admiravel collecção de grandes obras de que se possa orgulhar Coritiba. A arte, a sciencia, a philosophia se alinham nas estantes vastas em volumes que o uso e o tempo envelheceram”. Outro, no mesmo período, sofria irremediavelmente, sem poder buscar alívio “no absyntho ou no alcool” com a infinidade de leituras necessárias para o curso de direito da então recente (1912) Universidade do Paraná. Alguns anos antes (1889), um periódico curitibano estampava, em sua capa, a gravura de um velho sorridente lendo com entusiasmo. Em 1892, um autor, que escolheu o pseudônimo de A. Filon, dava vozes aos livros de uma biblioteca particular, para criticar o proprietário, nos seguintes termos:

 

Confessai, meus amigos, fazemos aqui papel bem triste: nosso proprietário manda de tempos em tempos limpar pelos creados a poeira que nos cobre; porem nunca nos toca, sequer com a ponta dos dedos [...]

 

Ainda, na década de 1920, os membros do Instituto Neopitagórico reuniam-se periodicamente para ouvirem a leitura de trechos de Comte, Emiliano Pernetta e outros, leitura esta que era entremeada por peças de piano e discursos edificantes. Durante o período 1880-1930, diversas imagens semelhantes a estas acumularam-se na imprensa periódica paranaense, devotadas a aludir, defender, elogiar, instigar, criticar ou disseminar a leitura, feita de acordo com certos propósitos, e dentro de certos parâmetros. O objetivo principal do livro que será apresentado à leitura a partir de agora, reside na reconstituição de leituras no passado, circunscritas ao Paraná do fim do século XIX e início do século XX. Buscar-se-á recuperar a sedução da leitura em um universo cultural bastante específico, aquele que propiciou a efervescência intelectual do Paraná no período em questão. A intenção é ver, para além das formas de leitura no passado, como um mundo intelectual se constrói, afirma, é criticado e, eventualmente, cria suas verdades aceitas como dadas. O estudo da leitura pode propiciar um acesso a este mundo pela via de sua constituição e construção de experiência. Na esteira de outros trabalhos de historiadores já estabelecidos no campo da história da leitura, nos interessa ver, através deste estudo, qual a importância da intelectualidade como força social, por um lado, e estudar a função de livros, indústria editorial e bibliotecas como meio de difusão de ideias, por outro.

 

ISBN: 978-85-5696-372-7

Nº de pág.: 240

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